quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Um dos porta-vozes do capitalismo

Muitos são os porta-vozes do capitalismo. Alguns personagens encaram o modo de ser das relações atuais. Desde criança, somos engrenados na ordem da sociedade que produz, vende e compra mercadorias. Não importam se são livros infantis, brinquedos, ensino, roupa, qualquer coisa, desde que seja comprada por meio do trabalho. A dignidade do trabalho nos é ensinada também desde a nossa tenra infância. Tudo parece estar concentrado nesse princípio, o começo da nossa trajetória social, quando aprendemos tudo de que precisamos para transitar entre o conhecimento, a empresa, a ordem, a obediência, a família e o Estado. Nos meandros ainda somos inseridos nas tradições culturais, tanto quanto étnicas ou religiosas. Aprendemos desde cedo a lógica comercial, atingimos a idade adulta completamente cônscios das nossas obrigações sociais, comprar e vender. O que nos move, em última instância é uma espécie de ética dos comerciantes. A partir de um determinado momento em nossa história social, somos movidos pela obediência a um sistema, de tal forma que parece não ser mais necessária aquela opressão educacional para manter o sistema. Mesmo assim, deve haver, sempre, aquelas formas simbólicas que se tornam presentes para nos lembrar que há algo de muito justo no que estamos fazendo. É assim no Natal. Nada mais simbólico e fortemente massacrante que a imagem do Papai Noel, que está em toda parte, na China, na Tailândia, no Chile, na Rússia, em Angola, no Canadá, na França. Ora, não importa onde, essa personagem aparece como um fantasma que assombra as nossas consciências com o imperativo categórico de que devemos presentear quem amamos incondicionalmente. Natal sem presentes não é Natal. Mas os presentes são a realização máxima do capitalismo, que chega à sua culminância com a determinação sempre revestida de um verniz absolutamente moral e afetivo. A personagem que ganha um sentido universal, seu papel é metafísico, na medida em que nos faz crer que o sistema chegou à sua totalidade. Papai Noel nos dá a certeza de que vivemos a tautologia planetária, em que o lógico e o histórico se conjugam a uma só voz, numa única imagem, absolutizando as condições reais da existência e eliminando a dialética. Papai Noel não é mais do que a tentativa de um sistema arrancar da vida qualquer sentimento que valha a pena ser vivido para além da relação instituída pela produção da mercadoria – a forma mercadoria que expressa a forma do valor. Papai Noel é a consciência do capitalismo que nos instiga a sermos passivos, dóceis, amáveis uns com os outros, especialmente com as crianças, que são estupidamente alçadas à condição de protagonistas do Natal. Esta sociedade precisa no Natal para satisfazer a sua sodomia de sorte que é por meio dele (o Natal) que a vida parece menos animalesca, mais humana, talvez na tentativa de adquirir algum sentido para uma ética que lança os indivíduos à sua própria sorte. Feliz Natal significa, em outras palavras, que a Mercadoria reine indistintamente das culturas, da história, da vida, da existência.

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